sábado, 28 de junho de 2008

Crítica de cinema: "Um Belo Par de Patins" ("Forgetting Sarah Marshall" - 2008)

Uma ida ao cinema: Um Belo Par de Patins (Forgetting Sarah Marshall), de Judd Apatow (2008), com Jason Segel, Kristen Bell, Russell Brand, Mila Kunis.Se estão à procura de uma hora e picos de descontra e de se desligarem do mundo real numa sala escura a cheirar a pipocas, recomendo a última desventura do popular realizador cómico Judd Apatow (Virgem Aos 40 Anos, Superbaldas, Um Azar do Caraças…) como uma alternativa viável a um belo balde de gomas mentais para quem gosta de cinema e comédia bem feitos mas não está para aturar um filme que lhes peça para pensar minimamente. Está tudo OK; todos temos esses desejos de vez em quando. Afinal, é para iusoo que serve o cinema, não é?
Um Belo Par de Patins segue Peter, (Jason Segel), um tonhó de primeira com uma namorada famosa (Kristen Bell), estrela de uma série de televisão popular, que o abandona. Peter terá então de se aguentar durante a recuperação de um romance que ele descobre, posteriormente, ter altamente idealizado, enquanto Sarah, a ex-namorada, mostra a sua verdadeira face, e assim esquecê-la: para tal decide viajar até ao Havai onde – surpresa, surpresa! – Sarah se encontra, de férias com o novo namorado. Peter faz assim um novo grupo de amigos que o ajudarão a ultrapassar a crise emocional que incluem um peso-pesado de cozinheiro havaiano, um instrutor de surf permanentemente pedrado, uma bonita e simpática recepcionista e até o novo namorado de Sarah.
Para começar, o filme é hilariante; depois, há que ter em atenção que o guião, escrito pelo protagonista, Jason Segel, é refrescantemente verdadeiro e as falas dos personagens soam de tal forma a improvisação livre dos actores ou à conversa que todos nós temos diariamente com os nossos amigos que é muito fácil entrar no espírito das palhaçadas que, como é óbvio, têm sempre lugar marcado numa comédia deste género. Quem já viu os supracitados títulos realizados por Judd Apatow sabe que este segue um método muito linear para elaborar os seus sucessivos sucessos: a história de um protagonista panhonhas, rodeado por amigos “stoners” e tão destrambelhados como ele, ou mais, que por acção ou influência de uma rapariga extraordinariamente ridícula – que, na vida real, acreditem, nada quereria com ele – acaba por encontrar uma solução para o problema que o aflige (“com resultados hilariantes!”) e assim, mais ou menos gradualmente tornar-se um adulto ajuizado, recheada de clichés e de humor de cariz sexual explícito funciona, ultimamente, devido à naturalidade do correr do diálogo e das performances realistas, sentidas e verdadeiras desempenhadas pelos actores – que, diga-se de passagem, costumam ser um mesmo grupo, rodando entre eles os papéis e projectos de Apatow; temos em Um Belo Par de Patins, os “repetentes” Paul Rudd, Bill Hader e Jonah Hill, por exemplo – que imprimem à comédia um carácter sadio e que dão aos personagens, mais notoriamente do Peter de Jason Segel, a consistência e tridimensionalidade que os distingue de meros algomerados de estereótipos e nos permitem a nós, espectadores, relacionarmo-nos com eles, afectarmo-nos a eles e desejar que encontrem o seu final feliz – porque os há, nos filmes de Judd Apatow.
É claro que o humor é mais direccionado ao público masculino e oscila entre o brutalmente explícito (a sério, não vejam este filme com pessoal mais tapadinho: as piadas que lhes vão ter de explicar vão acabar por sair embaraçosas) e o infantil, sendo que trabalha, tal como os personagens ganzados e preguiçosos de Judd Apatow, nas linhas da nudez, do sexo, da erva e das restantes funções corporais. É claro que, embora Jason Segel, que consegue claramente passar a mensagem do conflito interior do seu personagem por meio de “comic relief”, o qual consegue balancear entre o realista e o exagerado para propósitos de comédia e Russell Brand está simplesmente brilhante e hilariante como o novo namorado de Sarah, um excêntrico e ninfomaníaco rocker, nem todos os actores estão no topo do seu jogo – em especial as actrizes principais, Kristen Bell e Mila Kunis, seguem a regra de ouro das comédias nas quais o material cómico em si é deixado aos seus parceiros masculinos. É claro que há muitos pontos da história que ficam por explicar, já para não falar de ter sido bom termos acompanhado melhor o relacionamento de Peter com os seus novos amigos no hotel, e como raio é que se decide que uma pessoa que nunca tínhamos visto na vida é a nossa alma gémea em quatro dias apenas?...
Embora o filme seja muito engraçado, “Um Azar do Caraças” talvez seja mais compactamente carregado de situação de rir em plenos pulmões: porém, como já disse, a naturalidade de “Um Belo Par de Patins” e o charme nerd-ish de Jason Segel faz, nalguns aspectos, este filme superior ao “Azar do Caraças”, protagonizado por Seth Rogen. Em suma, este filme conquistou-me, e assim o recomendo como uma terapia de descontracção muito agradável. Tenham em conta, no entanto, que há alguma nudez, cenas de sexo, linguagem grosseira e, portanto, não levem os vossos irmãozinhos nem as vossas avós a ver este filme.

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